há dias alguma coisa tenta nascer por aqui. rabisquei uns inícios. falei, de forma meio tímida, sobre celebrar (e suas dificuldades). mas ainda não era isso. não era bem isso. me perdi em pensamentos algumas vezes. tive crises de ansiedade porque não sabia quais vozes eram minhas e quais não.
há meses alguma coisa mudou por aqui. eu não contava que com tudo isso, eu teria uma coisa que não tive nos últimos três anos: tempo.
e diz minha terapeuta que, tem coisas que a gente não apaga ou deixa pra lá: elas sempre voltam quando a gente tem um tempinho.
risos.

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eu não posso (e também não quero) desassociar a espiritualidade de mim e da minha história. afinal de contas, desde muito cedo eu pisava em terreiros e ouvia grandes coisas sobre mim. coisas difíceis de acreditar, coisas que finalmente chegaram, coisas que me ajudaram a construir meu lar e ouvir meus desejos.
dia desses ouvi de um marinheiro que sempre fui de águas internas intensas (mas é preciso cuidado, pois você não vai afundar, mas balança. já é o suficiente, entende?) e que aquilo que a gente sente falta faz aquilo que a gente é. ouvi dias depois de um oráculo de uma amiga me mostrar que muito da minha autoestima está relacionada a movimento. e eu disse a ele que, como filha da dona de todas as cabeças, eu sentia falta de criar.
veja bem.
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entendi também que sinto falta de me divertir. eu acho que da mesma forma que é preciso coragem para celebrar e ser feliz, é preciso coragem pra se divertir também. até porque, se divertir incomoda. gargalhar alto, ser escandalosa, gesticular, fazer gracinhas. ser boba. acho que era lispector quem escreveu sobre as vantagens de ser bobo. enfim. tem uma certa coragem em se divertir e talvez eu esteja aprendendo a encarar isso de frente, foram uns anos, né? eu disse algumas vezes na terapia que estava cansada de estar endurecida e que essa não era a minha versão preferida, tenho respondido já faz algumas sessões sobre quem é a pessoa (não idealizada) que eu quero ser. minha psicóloga está empolgadíssima, minha namorada perguntou se eu não vejo mesmo nenhuma beleza nesse processo. eu penso que não, mas que tentem novamente mais tarde.
aí leio o corpo encantado das ruas, do luiz antônio simas, e coloco na bio do instagram que tal qual as pombagiras, eu quero viver gargalhando e dançando nas ruas.
pra quem carrega duas delas e samba por aí com a malandragem já faz uns anos, não parece um desejo irrealizável. eu chamaria mais de lembrete. compromisso comigo mesma. ou do mínimo que posso fazer por mim.

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nesse curto período de ano, eu já entendi na prática algo que ouço há tempos: aprender a me retirar da mesa quando o que é servido não te sustenta mais, não te agrada mais. e aprendi fazendo o caminho de lembrar que, nossa, como é delicioso querer ficar mais e mais e mais na mesa. seja em cafés da manhã com calma, seja num dia inteiro de brunch e ducha. aí, olhando pra como esses momentos mexem comigo, levantei de outras mesas. não necessariamente pedi licença, dei explicações e coisa do tipo. avisei que olha, o uber tá chegando, então tá, até mais.
e fui lembrar de ser feliz com a mesa posta com calma. de novo e de novo.
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me aventurei esse ano em descobrir o que é o carnaval pra mim e como eu sou pra ele. veja: eu sempre gostei de festa de rua, sempre estive em festivais de rua, música de rua, teatro de rua. sempre tinha uma coisinha na rua que me chamava. além disso, a música né. outro dia assisti um ensaio de bloco e me ouvi dizendo “esqueci que tinha estudado música”. como que esquece isso? me aventurei em diversas etapas, inclusive ajudando na costura de figurinos, comprando glitter, salvando referências, assistindo ensaios entre estados e acompanhando playlists de blocos daqui e de bh.
aí outro dia me peguei dizendo pra uma amiga que minha cabeça estava uma bagunça, igualzinho meu apartamento: cheio de coisa espalhado por todo canto. glitter, linhas, aviamentos, tecidos, a máquina de costura numa mesa, o notebook na outra, fazendo da cama uma mesa de corte, comprando tule e descendo a 25 pela (no máximo) terceira vez (apenas) em quase oito anos de são paulo.
“bagunça boa então, né?”
nunca as broncas de marinheiro e exu mirim sobre “aprender a organizar uma gaveta de cada vez” fizeram tanto sentido quanto agora. isso envolve aprender o que cada coisa significa pra mim, escolher (e defender) como eu quero que as coisas sejam pra mim e, acima de tudo, não bagunçar as gavetas dos outros porque já tenho trabalho o suficiente.
eu não sei se a bagunça é boa, mas eu decidi confiar que coisas bonitas vão sair desse processo, em breve e já já.
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ouvi duas vezes nos últimos cinco dias que sou corajosa. outra que sou potente, outra que sou grandona. talvez precise escrever em post-its e transformar em palavras de afirmação pra mim (seguindo dicas de oráculos de autocuidado!)
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falar de carnaval é, pra mim, falar de moda. e falar dos dois é falar de corpo. não posso dizer que colocar meu corpo na rua é algo que não me deixe levemente pensativa sobre. mas também gosto de lembrar dessa matéria aqui que fiz para o popplus, em 2023. e do quanto eu acredito em ocupar as ruas (olha elas de novo).
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pra todo mundo que tá aqui e pra todo mundo que chegou:
bom baile pra gente!
O tanto de orgulho, de inspiração, de amor que eu sinto ao ler você e falando de você e sobre suas andanças e identificando que você é sim uma pessoa incrível e faz diferença por onde passa! e que as ruas, as pessoas e os caminhos que você trilhe continue cada vez mais te mostrando o quanto você merece celebrar e que você vai gargalhar muito por ai!
O tanto que amei esse texto. Você, em movimento, movimenta gente que você nem imagina. Te amo, amiga! Bom te ler de novo ❤️